Prefeitura promete acesso pelo menos nos principais pontos de circulação
Inovação ou politicagem? Recentemente, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, se reuniu com o ministro das Comunicações – Paulo Bernardo – para discutir sua pretensão de transformar definitivamente a capital paulista em uma cidade digital. A ideia é oferecer conexão wi-fi em diversos pontos de São Paulo. A princípio, talvez em um tom mais de discurso político, a Prefeitura chegou a prometer internet gratuita sem fio em toda a cidade.
Hoje, em algumas cidades do mundo, como Nova York e Paris, por exemplo, já é possível usar a internet via wi-fi sem pagar nada em algumas localidades; principalmente parques, museus e regiões turísticas. Mas em nenhum caso – pelo menos por enquanto – uma metrópole foi 100% coberta por sinal wi-fi. Projetos existem, mas isso não é tarefa fácil onde quer que seja.
"Cobrir a cidade inteira de São Paulo, uma cidade muito grande, com uma geografia acidentada, eu acho muito difícil", declara Jonas Trunk, presidente da Linktel. "É praticamente impossível."
Em um segundo momento, a Secretaria Municipal de Serviços disse que a ideia não é colocar wi-fi em toda a cidade, mas sim em alguns locais com fluxo intenso de pedestres. O projeto está em fase de estudos de viabilidade técnica para a implantação do piloto, que segundo a Prefeitura, deve ser disponibilizado a partir de junho deste ano.
Neste projeto piloto, um dos primeiros lugares a serem contemplados com a conexão wi-fi gratuita seria a Avenida Paulista. Essa ambição por ali já é um desafio e tanto, afinal a região da Paulista é repleta de prédios altos e outros obstáculos que causariam inúmeras regiões de sombra, ou seja, onde o sinal não chegaria com qualidade suficiente aos usuários. Mais do que disso, é bem possível que a iniciativa gere um conflito de negócios entre a oferta da Prefeitura e as provedoras de internet banda larga na região.
"Fazer isso num lugar como a Avenida Paulista, que é mais empresarial, pode atrapalhar o negócio de outras empresas", explica Trunk. Isso porque os negociantes da região deixariam de pagar pelo acesso vindo de operadoras para consumir a internet gratuita. "Gera um consumo a mais, desnecessário, e eu não acho que esse é o objetivo da Prefeitura. O objetivo dela é ter internet grátis pra população que está passando por lá e não necessariamente para quem tem escritório lá."
Ainda que muita gente não saiba, a vegetação da cidade também é um grande obstáculo para o wi-fi, o que torna ainda mais complexa a ideia de cobrir toda a cidade. Por acaso, a tecnologia opera na mesma frequência da cor verde; e, sim, isso também atrapalha.
"O vegetal enxerga essa frequência de 2.4 GHz e também a de 5.7 GHz como energia, ele absorve essa frequência, então se houver uma faixa grande de árvores ou de verde e o sinal de wi-fi ou de outra transmissão nessa faixa de frequência encontrar essa parede verde, acaba funcionando como uma resistência. Ela para o sinal, absorve e do outro lado vai haver muito pouco ou nenhum", explica Trunk.
De qualquer forma, a exemplo de outras metrópoles como citamos há pouco, em regiões específicas é totalmente possível que a Prefeitura ofereça wi-fi gratuito para a população. Aqui mesmo no Olhar Digital nós já mostramos o exemplo de Jundiaí, no interior de São Paulo, que oferece conexão gratuita em todos os parques e terminais de ônibus da cidade. Mas o processo é demorado e, pior, caro.
Para se ter uma ideia, no Rio de Janeiro, onde a prefeitura local oferece wi-fi gratuito em toda a orla de Copacabana e do Leme, foram mais de três meses para instalar todos os equipamentos necessários e o projeto custou R$ 12 milhões. Em uma conta rápida, na ponta do lápis, descobrimos que só com as antenas para cobrir a região metropolitana de São Paulo, o custo não sairia por menos de R$ 225 milhões; isso sem contar toda infraestrutura necessária por trás disso.
Para o presidente da Linktel, o problema não é só o investimento, mas também a manutenção que vem depois. "Vários outros municípios já investiram para colocar wi-fi em alguma região da cidade e o problema é que o Estado não é provedor de internet e também não está lá para dar manutenção em sistema de telecomunicações. Ao longo do tempo, isso para de funcionar, não tem manutenção... então acho que o maior custo que o Estado acaba incorrendo é depois, para manter."
Hoje muita gente já usa internet sem fio em casa. A tecnologia para o wi-fi em vias públicas é exatamente a mesma – e é exatamente por isso que onde há essa possibilidade é possível se conectar com nossos dispositivos usados no dia a dia, como tablets, laptops e smartphones. A diferença está mesmo nos roteadores, que no caso das instalações públicas, precisam ser parrudos o suficiente para aguentar diversas conexões simultâneas e ter longo alcance.
E você, o que acha dessa ideia? Lógico, todo mundo gostaria que houvesse conexão wi-fi gratuita em toda a cidade. E não estamos falando só em São Paulo, mas de todo o país. Mas, dadas as dificuldades técnicas, e o histórico das iniciativas pública no Brasil, será que essa ideia vai caminhar na maior metrópole do país? Deixe sua opinião nos comentários!
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