Material encanta cientistas pelo mundo todo e
vĂ¡rias aplicações vĂªm sendo descobertas para ele. SerĂ¡ que o grafeno vai
mesmo invadir o mundo da tecnologia?
Pesquisadores da Universidade de Manchester trabalhando com o grafeno (Fonte da imagem: DivulgaĂ§Ă£o/Universidade de Manchester)
Se vocĂª acompanha de forma regular tudo o que postamos aqui no
Tecmundo, vocĂª com certeza jĂ¡ leu algum artigo sobre o grafeno. NĂ£o Ă©
para menos, pois atualmente esse nanomaterial Ă© a grande vedete dos
estudos tecnolĂ³gicos. E, acredite, toda a empolgaĂ§Ă£o dos cientistas – e
tambĂ©m das grandes empresas – sobre a descoberta pode ser facilmente
justificĂ¡vel.
A Nokia, por exemplo, anunciou recentemente que investiria mais de um bilhĂ£o de dĂ³lares
em estudos envolvendo o grafeno, dinheiro que Ă©, inclusive, oriundo de
um fundo criado para financiar trabalhos desenvolvidos exclusivamente
sobre o material.
As propriedades do grafeno sĂ£o Ăºnicas e, ao que tudo indica, podem
ser aplicadas em diversos usos diferentes. Ele Ă© ultraleve, Ă© 100 vezes
mais rĂ¡pido que o silĂcio, se mostra 200 vezes mais forte do que o aço e
tem diversas caracterĂsticas Ă³pticas e tĂ©rmicas que, pelo menos nos
testes bĂ¡sicos, sĂ£o surpreendentemente favorĂ¡veis a diversas aplicações.
Assim, enquanto em alguns casos o material pode baratear custos, em
outros ele vem se mostrando capaz de apresentar resultados mais
eficientes e confiĂ¡veis. Mas, afinal de contas, de quais aplicações
estamos falando?
Crucial para o futuro da tecnologia
O grafeno tem sido considerado por algumas companhias como um dos
salvadores do futuro da tecnologia. Por quĂª? Bem, os cientistas vĂªm se
desdobrando para conseguir desenvolver circuitos de silĂcio cada vez
menores, um desafio que pode se tornar impossĂvel de ser superado dentro
de pouco tempo.
Grafeno sendo extraĂdo (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/Universidade de Manchester)
Isso acontece devido ao fato de que, quanto menores sĂ£o os ambientes
de trabalho, mais instĂ¡veis os elĂ©trons acabam ficando – comportando-se
mais ou menos como uma gota de Ă¡gua que cai em cima de uma chapa
superquente.
E Ă© aĂ que o grafeno entra. Muitos pesquisadores acreditam que as
propriedades quĂ¢nticas do material permitirĂ£o que os novos circuitos
fabricados com ele sejam menores e ainda mais eficientes.
Melhor qualidade de Ă¡udio
A criaĂ§Ă£o de fones de ouvido com qualidade nunca antes vista Ă© a
prova de que a aplicaĂ§Ă£o do grafeno pode abranger diversos ramos
diferentes da tecnologia. A ideia partiu de alguns pesquisadores da
Universidade da CalifĂ³rnia, que desenvolveram o primeiro fone de ouvido de grafeno do planeta.
Fones cheios de qualidade sonora (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/ExtremeTech)
O que eles fizeram foi recriar a tradicional estrutura de um
alto-falante, aproveitando todas as propriedades revolucionĂ¡rias do
material. Trocando em miĂºdos, sabemos que um alto-falante tradicional
trabalha com a vibraĂ§Ă£o de um diafragma de papel; Ă© a sua movimentaĂ§Ă£o
que produz as frequĂªncias sonoras. O problema Ă© que ele precisa contar
com “amortecedores”, alĂ©m de se desgastar com o tempo e nĂ£o ter 100% de
fidelidade.
O invento dos cientistas traz um diafragma feito de grafeno e que
possui apenas 30 nanĂ´metros de espessura. Preso entre dois eletrodos de
silĂcio (sĂ£o eles que permitem a vibraĂ§Ă£o do material para a produĂ§Ă£o do
som), ele se mostrou incrivelmente resistente e fiel, trazendo uma
qualidade de Ă¡udio prĂ³xima Ă dos principais produtos atualmente no
mercado – isso que estamos falando de um protĂ³tipo extremamente rĂºstico.
Uma internet bem mais veloz
Entre os estudos realizados com o grafeno existem também alguns
trabalhos que visam aplicar o material em uma nova espécie de cabo de
transmissĂ£o de dados para a internet. Segundo uma pesquisa publicada
pela revista Nature Communication, a ideia Ă© aproveitar toda a
velocidade alcançada pelos elĂ©trons no grafeno – as cĂ©lulas se movem
nele centenas de vezes mais rapidamente do que nos cabos atualmente
utilizados.
Internet bem mais rĂ¡pida (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/iStock)
Valendo-se de uma combinaĂ§Ă£o do grafeno com algumas minĂºsculas
estruturas metĂ¡licas conhecidas como nanoestruturas plasmĂ´nicas, os
cientistas conseguiram fazer com que o material seja capaz de absorver
mais luz – algo que era o principal obstĂ¡culo na utilizaĂ§Ă£o do grafeno
nesse tipo de trabalho.
O estudo foi conduzido em 2011 e na equipe estĂ£o inclusive os dois
cientistas russos que descobriram o grafeno em 2010, Andre Geim e Kostya
Novoselov. Assim, novidades nesse sentido deverĂ£o surgir nos prĂ³ximos
anos.
JĂ¡ em outra pesquisa, essa feita pelos cientistas da Universidade de Berkeley, na CalifĂ³rnia, descobriu-se que talvez o segredo
nĂ£o esteja nos cabos, mas sim nos moduladores de rede – equipamento responsĂ¡vel por gerenciar o envio dos pacotes na internet.
No trabalho, liderado pelo professor de engenharia Xiang Zhang, o
grupo de estudo construiu um modulador com capacidade de transmissĂ£o
muito superior Ă dos atuais. De acordo com eles, a invenĂ§Ă£o pode elevar a
velocidade da transmissĂ£o de dados a taxas que chegam aos 100 terabits.
Pode limpar a Ă¡gua
AlĂ©m de servir para a evoluĂ§Ă£o dos mais diversos equipamentos
eletrĂ´nicos, o grafeno tambĂ©m apresenta diversas outras aplicações –
como purificar a Ă¡gua, por exemplo, inclusive transformando a Ă¡gua
salgada em potĂ¡vel. A ideia Ă© simples e segue os mesmos princĂpios dos
filtros tradicionais.
ReproduĂ§Ă£o artĂstica de uma folha de grafeno (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/Universidade de Manchester)
O processo, criado por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), consiste em fazer com que a Ă¡gua salgada passe por dentro de um filtro
extremamente fino e construĂdo com grafeno. Nele, somente as molĂ©culas
do lĂquido podem passar, ou seja, ele Ă© capaz de reter todo o sal
presente nele.
AlĂ©m do sal, o grafeno tambĂ©m tem se mostrado eficiente na hora de eliminar outros elementos da Ă¡gua – inclusive a radioatividade.
Um trabalho desenvolvido em conjunto pela Universidade Rice, nos EUA, e
pela Universidade Estatal de Moscou, na RĂºssia, mostrou que o Ă³xido de
grafeno pode ser utilizado para eliminar materiais radioativos do
lĂquido.
Limpando a Ă¡gua contaminada (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/Universidade Rice)
Tudo porque ele seria capaz de fazer com que as toxinas presentes na
Ă¡gua acabem se aglomerando, criando grandes flocos de “sujeira”. Isso
tornaria bem mais fĂ¡cil o trabalho de identificar e eliminar esse tipo
de poluiĂ§Ă£o. SĂ³ Ă© preciso cuidado, pois a Ă¡gua com grafeno tambĂ©m pode
se transformar em algo extremamente corrosivo.
Baterias mais eficientes
As baterias sĂ£o um dos campos de estudo mais abordados pelas
universidades do mundo todo quando o assunto Ă© o grafeno. As
propriedades do material vĂªm sendo aplicadas de diversas maneiras – e
vĂ¡rios resultados bem positivos jĂ¡ apareceram em testes relativamente
simples.
Algumas descobertas vĂªm acontecendo atĂ© mesmo por acaso. Recentemente, um aluno da UCLA,
nos Estados Unidos, buscava novas maneiras de fabricar folhas de
grafeno. Enquanto realizava as suas experiĂªncias, ele acabou, sem
querer, descobrindo uma forma de criar um supercapacitor. Basicamente
ele criou um disco de grafeno que, com apenas dois segundos de carga,
conseguiu manter um LED aceso por cinco minutos.
JĂ¡ alguns engenheiros da Universidade de Stanford, tambĂ©m nos EUA,
pegaram um modelo antigo de bateria de nĂquel e aço e simplesmente
substituĂram o carbono, um dos elementos presentes na soluĂ§Ă£o
responsĂ¡vel por fazer a conduĂ§Ă£o de energia, por grafeno. Com isso, eles
conseguiram fazer com que a bateria tivesse a sua carga totalmente
completada em poucos minutos – acelerando a recarga do dispositivo em
“apenas” mil vezes.
Baterias flexĂveis (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/RSC)
Ainda em 2011, logo apĂ³s a “descoberta” do grafeno, pesquisadores do
KAIST (Korea Advanced Institute of Science and Technology) jĂ¡
trabalhavam em uma bateria usando o material. Segundo os coreanos, uma bateria flexĂvel
poderia apresentar um desempenho muito bom – alĂ©m de ser Ăºtil para os
gadgets dobrĂ¡veis que vĂªm sendo desenvolvidos pelas grandes companhias
de eletrĂ´nicos.
E as ideias nĂ£o param por aĂ. Cientistas do LaboratĂ³rio Nacional Lawrence Berkeley, nos Estados Unidos, criaram um nanocomposto de grafeno com estanho que deu forma a alguns eletrodos bem mais potentes do que os usados atualmente.
Novas baterias (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/Universidade Northwestern)
Enquanto isso, na Universidade Northwestern, também nos EUA, os
estudiosos trabalham no desenvolvimento de baterias com um conceito
inovador. Elas contariam com vĂ¡rias camadas de grafeno(vĂrgula)
e o Ăon de lĂtio seria inserido entre essas “lĂ¢minas”. O resultado,
segundo o trabalho, seria algo capaz de fazer esses componentes durarem
até dez vezes mais do que as baterias utilizadas atualmente.
Novos semicondutores, circuitos, chips...
Uma das principais indĂºstrias que estĂ£o de olho no desenvolvimento
das tecnologias do grafeno Ă© a de semicondutores. Isso porque vĂ¡rias das
propriedades do material sĂ£o muito interessantes para a criaĂ§Ă£o desse
tipo de produto.
Buscando novas tecnologias (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/SammyHub)
O grafeno possui 200 vezes mais mobilidade de elĂ©trons do que o silĂcio usado nos componentes atuais, por exemplo. Tal caracterĂstica, segundo o Advanced Institute of Technology (SAIT), seria capaz de produzir, por exemplo, processadores com atĂ© 300 GHz de frequĂªncia.
Enquanto isso, os cientistas da Universidade de Wisconsin-Milwaukee,
nos EUA, trabalham no desenvolvimento de transistores com base em um
submaterial obtido a partir do grafeno: o monĂ³xido de grafeno. A
principal vantagem do novo material seria a sua versatilidade, uma vez
que ele consegue ser isolante, condutor e semicondutor. JĂ¡ os
pesquisadores na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriram
que o grafeno pode ser utilizado para a criaĂ§Ă£o de transistores transparentes.
Nanochips tambĂ©m estĂ£o sendo estudados – e algumas pesquisas
conduzidas pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) mostram que o
DNA pode trabalhar em conjunto com o grafeno no desenvolvimento de novas e revolucionĂ¡rias tecnologias.
O DNA e o grafeno. Uma combinaĂ§Ă£o perfeita? (Fonte da imagem: ReproduĂ§Ă£o/Wikimedia Commons)
Falando de forma mais simplificada (se Ă© que isso Ă© possĂvel), os
cientistas descobriram que uma simples molécula de DNA pode servir como
uma espécie de forma para o grafeno, algo que teoricamente tornaria
possĂvel a impressĂ£o dos circuitos.
Mais, muito mais
AlĂ©m dos tĂ³picos apresentados nesse artigo, o grafeno ainda tem um
potencial de uso praticamente infinito. A cada dia novas pesquisas
envolvendo o material aparecem, incluindo a criaĂ§Ă£o de roupas, novas e
melhores telas com sensibilidade a toques ou o desenvolvimento de
materiais superleves e resistentes.
Estimativas apontam que produtos utilizando o material podem aparecer
antes de 2020, incluindo telas touchscreen e diversos outros
equipamentos. SerĂ¡ que essa descoberta se confirmarĂ¡ mesmo
revolucionĂ¡ria?
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